sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

No ônibus


 (Minha primeira "crônica")

No ônibus, a caminho do trabalho, ela ouvia amado de Wanessa da Mata. De repente a harmonia da música foi interrompida pelo vulto de um papel em branco. Quando virou o rosto deparou-se com um homem de muletas que lhe estendia um papel. Era mais um desses que pedem nos coletivos. Mais um dos que faz sentir a pobreza humana.

“Por que me incomoda  pensar em coisas para as quais não sei a solução. E por isso mesmo, a maioria das vezes, prefiro fingir que não vivo neste mundo caótico”.

A cena colocou-a contra a parede. Em sua cara estava sendo “esfregado” toda a realidade que a sonoridade daquela música jamais mostrara. E que el anão fazia tanta questão de ver.
Quando amado de Wanessa da Mata terminou de tocar passou para déjà vu da Pity. Os versos:

Nenhuma verdade me machuca
Nenhum motivo me corrói
Até se eu ficar só na vontade, já não dói
Nenhuma doutrina me convence
Nenhuma resposta me satisfaz
Nem mesmo o tédio me surpreende mais

Mas eu sinto que eu tô viva a cada banho de chuva que chega molhando meu corpo nu

Nenhum sofrimento me comove
Nenhum programa me distrai
Eu ouvi promessas e isso não me atrai
E não há razão que me governe
Nenhuma lei prá me guiar
Eu tô exatamente aonde eu queria estar

(...)

Em seu entendimento a música da Pity falava naquele momento de comodismo. “Bem se sabe que as interpretações que fazemos dos signos depende do momento e da situação em que nos encontramos”. E naquele instante para ela aquela canção versava sobre o comodismo de pessoas que como ela já se acostumram com as coisas de certa maneira que não se sensibilizam mais com o sofrimento alheio.

“Como podemos não nos revoltar com a situação com que seres humanos vivem. Como uma pessoa permite que seu semelhante viva de forma tão degradante”.

A moça resoveu olhar em sua para ajudar o papaz. Não tinha moedas, apenas duas notas de cinco. Achava muito dar cinco reais a um pedinte de ônibus.

Devolveu-lhe o papel e voltou a ouvir suas músicas enquanto o ônibus seguia seu trajeto e o pedinte sua peregrinação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário